Uma caçadora quando rastreia aventuras, espera que a experiência não seja fácil, que contenha desafios e dificuldades controladas e que esta coloque à prova sua resistência, força interior e controle do medo. A travessia dos Cânions me parecia uma GRANDE AVENTURA.
E foi assim, a partir de um sonho antigo de conhecer os Cânions do sul do Brasil, que ele se materializou em maio e pela segunda vez em setembro de 2023, temporada de montanhismo no Brasil. Pela segunda vez, com meu companheiro Edu Santos do @trilhas_pega_leve. Para se tornar uma grande emoção, optamos por caminhar a pé, um percurso de 158 km entre os Cânions do RS até SC com a empresa www.travessiadoscanions.com.br ao invés de fazer o percurso da forma turística tradicional.
Partiu travessia dos cânions?
Nada disso! Se fosse assim tão fácil, como já disse, não seria uma aventura. Um trekking nos campos de altitude promete um planejamento prévio e cuidadoso em vista das baixas temperaturas do inverno- piores nas altitudes, solo úmido repleto de charques, nascentes de rios, subidas e descidas, travessia de rios e a iminência da viração- neblina repentina que dificulta a visão de seu próximo passo, chuva e ventos fortes. Este, em especial, este exige preparo físico e mental planejado, pois o participante precisa caminhar mais de 25 km diários, o que chamamos de “ultratrekking”.
Além disso, materiais de apoio, segurança e térmicos como botas e meias impermeáveis e transpiráveis, blusas de fleece e casacos anorak, luvas, sacos de dormir e isolantes térmicos, e proteção para pescoço e cabeça são necessários para a travessia dos cânions. Como são 5 dias de travessia e a estrutura para receber os aventureiros nem sempre está preparada para receber “turistas”, é importante ter uma barraca de qualidade e alimentação apropriada, considerando a exigência de alta performance física e frio.
A natureza abundante é algo que as palavras vão tentar relatar. Fica difícil escolher qual das partes que mais nos impressionou ou que possui maior beleza: a grandiosidade dos cânions ou os vales-altos ao seu lado? Isso acontece pois nos entregamos de tal forma às experiências na natureza que não conseguimos encontrar uma parte da nossa cidade, do Brasil, do mundo ou deste universo “mais bela”. Cada uma e sua singularidade já são suficientes para que nosso coração vibre.
Lembro do que aprendemos com os povos indígenas incas do Peru, na travessia de 90 km entre Cuzco e Machu Pichu em 2022, que as montanhas são “apus” ou Deuses, senhores respeitados e venerados por sua sabedoria. É este poder que sentimos quando beiramos os cânions. Um misto de deslumbre devido à beleza estética e poder que as montanhas transbordam, pois sabemos que elas são muito antigas, e que levaram milhares de anos para serem formadas, com histórias geológicas únicas.
Seus cumes e alturas, possuem formas mais variadas possíveis. Achatadas, pontiagudas, únicas, em fileira, e por aí vai. E as cores? Pedras e matas se integram para formar vistas maravilhosas! O que chama atenção também é a diferença de cores formada pelo distanciamento entre elas, muitas vezes, com neblina, formando um quadro de tonalidades do verde ao cinza, indescritíveis.
Já os campos de altitude dos Cânions possuem um solo totalmente diverso do que encontramos em outras partes e geografia do nosso país. Normalmente são planos, com morros de pequena elevação e árvores esparsas, formadas principalmente de pinheiros, árvore típica da região. A travessia se dá 95% em solo plano, entretanto, úmido pela grande presença das nascentes dos rios. E que privilégio caminhar pelos charques e NASCENTES! Ainda mais incrível é poder seguir estas nascentes e vê-las formando cachoeiras altíssimas, que caem dos cânions, a seu lado! Cansativo a caminhada/travessia dos cânions pelos charques? Sim, mas… a experiência de fazer um trekking pelos campos de altitude, na beira dos cânions é surreal…
A Universo Eco que nos guiou por estes 5 dias de travessia, se preocupa bastante com a segurança e o conforto dos esportistas e, portanto, se utiliza das fazendas locais (cada cânion tem um dono, passamos por várias cercas de arame farpado ou porteiras, e alguns possuem estrutura para receber turistas). Paramos para dormir (quem quiser dormir em barraca é opcional) na Fazenda Cruzinha fica no Cânion da Cruzinha, na Fazenda Pontão ( cânion boa vista) e na fazenda dos papagaios (cânion do rinoceronte). Além deste suporte, eles possuem sistemas sofisticados de localização daonde os grupos estão caminhando, seguro-aventura e transporte para as cargueiras, diminuindo a variável “peso” e viabilizando a caminhada por maiores trajetos.
O percurso total foi de 156 km, entre São José dos Ausentes (Cânion da Rocinha) até o Cânion Laranjeiras, em Santa Catarina, como se vê a seguir:
– Início na cidade de São José dos Ausentes na Serra da rocinha
– Cânion Amola faca
– Cânion Boavista
– Cânion Coxilhas
– Cânion Monte Negro
– Pico Monte Negro
– Cânions Cruzinha
– Pico Rinoceronte
– Cânion da Ronda
– Serra do Rio do Rastro
– Cânion do funil
– Cânion do Portal
– Finalizando na Fazenda do Cânion das Laranjeiras, recebido pela Dona Zué, com uma mesa farta de lanche da tarde.🫶🏽 Nossa gratidão!
Para esta ultratravessia, além de ter desafiado nossa resistência física, precisamos usar nossa força interior e meditar naqueles momentos que sentíamos”que nosso corpo não respondia mais”. Começávamos a respirar de forma ofegante, os dedos dos pés doíam, eu escorregava e começava a cair algumas vezes, a perna ficava trêmula. Para evitar aumentar a ansiedade, não nos ajudava saber quantos km faltavam, preferíamos olhar para baixo e meditar em nossos pés, aqui é agora, dando passo a passo. E quando, nesta condição, aparecia um morro de 300 metros de elevação? Precisávamos ir! E íamos, com dor mesmo.
Nos tranquilizava ver as UNHAS DOS COMPANHEIROS CAÍREM e seus pés repletos de bolhas, pois o meu pé, pelo menos, voltou inteiro, sem bolhas, calos e unhas perfeitas kkkkk. Era um desfile de HORRORES visualizar os companheiros, a noite, retirarem seus pés das botas, muitas vezes molhadas…
Parabenizamos aos que realizaram a META de 90, 130 e 158 km e aos integrantes que alcançaram o recorde brasileiro de “Maior travessia guiada em parques nacionais do Brasil”, meta atingida dia 11/09/23 na Travessia dos Cânions, guiada pela www.travessiadoscanions.com.br (Universo eco). O último recorde era de 142km, da Travessia do Vale do Pati.
Caminhei 90 km nas duas vezes que participei desta aventura e me sinto uma pessoa melhor, mais confiante e com menos medo para enfrentar o que a vida me entregar. Assim como me entrego a uma experiência como esta, de corpo, mente e alma para que eu possa evoluir espiritualmente, ser uma pessoa melhor e possa contribuir para o crescimento e autoconhecimento de outras pessoas.
Se desejar acompanhar o dia a dia desta e outras aventuras, siga https://www.instagram.com/monicanatrilha.aventura/
E para finalizar, sugiro que assista ao vídeo abaixo para “sentir” como é se aproximar de um beiral de cânion!!